Abstract: Na segunda metade do século XVII, foram publicadas nos domínios holandeses orientais algumas edições de um panfleto intitulado Differença d'a Christandade. Esse "livrinho", carregado de ataques ao papado romano, materializava-se como representação literária exemplar dos constantes embates doutrinários travados entre católicos e protestantes, desde o alvorecer da Idade Moderna, na Europa Ocidental e, posteriormente, nos seus domínios ultramarinos. Por trás de sua divulgação, estava um até então desconhecido calvinista português – João Ferreira A. d'Almeida (1628 - 1691) –, ministro pregador da Igreja Reformada Holandesa, cujo nome, porém, tornar-se-ia bastante conhecido, graças ao seu pioneiro trabalho de tradução da Bíblia em língua portuguesa. Almeida também produziu, ao longo de sua vida, várias outras obras, a maioria delas de caráter polemista anti-católico. Diante desses ataques à Igreja de Roma, três missionários católicos no Oriente – o agostiniano Jerônimo da Siqueira, o jesuíta Jean-Baptiste Maldonado e, posteriormente, o franciscano Giovan Battista Morelli – se levantaram contra as "heresias" do calvinista português. No âmago deste embate, foram produzidas algumas obras literárias polemistas, que apresentaremos sucintamente neste artigo, objetivando evidenciar as especificidades do embate religioso relativo à elaboração da primeira Bíblia em língua portuguesa. Assim, amparados em uma perspectiva histórico-religiosa, poderemos apontar a maneira como este conflito doutrinário, a princípio intra-europeu, se manifestou de forma sui generis em um novo contexto espacial e cultural, trazendo consigo não apenas singulares produtos doutrinais, mas também missiológicos e literários.
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